O que jovens estrangeiros acham do Brasil?

Entrevistei alguns estrangeiros de diversos países para finalmente descobrir a visão do nosso país.

No geral, perguntei sobre segurança pessoal, instabilidade política, qualidade e custo de vida, o jeito do povo brasileiro e pedi para compartilharem alguma história que marcou sua viagem.

Há depoimentos longos e sucintos. Cinco países, cinco pontos de vistas e cinco histórias.

Denbert White – Londres

Denbert

“Passei por São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte e em todos os lugares me senti seguro o tempo todo. Tinha escutado falar que no Rio deveria tomar mais cuidado com minhas coisas, mas havia muita presença policial, então não me preocupei muito. Tinham muitos carros de polícias em cada entrada de favela. A única vez que me senti intimidado foi quando fui a um “estabelecimento de cavalheiros” e o segurança nos olhava muito torto e queria cobrar um valor maior que consumimos.

Os brasileiros são incríveis! Todos lugares que fui me senti bem-vindo. Todos eram bem falantes. Já tinha escutado falar que o Brasil tinha o povo mais apaixonado por futebol e eu tive essa prova, principalmente depois do jogo contra a Alemanha em Belo Horizonte durante a Copa do Mundo.

O ânimo e a excitação antes do jogo eram elétricos! O sentimento de choque durante o jogo era surreal, a tristeza e o desapontamento na derrota foi de partir o coração e o respeito pelo time adversário e adeptos foi fascinante.

O transporte público que usei era tão bom quanto outros lugares do mundo que visitei.

Nas três cidades que visitei percebi que eram muito diferentes. Você tem algumas diferenças óbvias como no Rio você tem a costa e praia, São Paulo é uma grande cidade com muitos prédios e Belo Horizonte parece que está trabalhando para ser uma cidade maior. Você percebe as diferenças culturais nas cidades também. São Paulo é uma cidade metropolitana como Londres ou Nova Iorque com muitas lojas e um pessoal mais fashion.

No Rio claramente vi a divisão entre pessoas. Os negros tendem a morar nas áreas periféricas e os brancos mais próximos das praias. Em Belo Horizonte não parece que muitas pessoas ricas moram lá, há muitos comerciantes e agricultores, também muitos bares e restaurantes!

Quando falei com alguns jovens em Belo Horizonte a maioria dizia que queria sair do Brasil e morar em outro país. Isso porque eles sentiam que o governo não olhava para eles. Educação em Universidade não era algo realista, pois não podiam pagar por um ensino superior. Além disso, os empregos são difíceis de conseguir.

No Rio percebi que a criminalidade é um grande problema. Não porque me disseram, mas porque via diversas viaturas em todas as favelas 24 horas por dia. Também me disseram sobre o dinheiro que foi gasto na Copa do Mundo e nas Olimpíadas e que os brasileiros que trabalharam nas construções e infraestruturas não ganharam quase nada. O dinheiro seria deixado com todas as pessoas e empresas que vieram ao Brasil apenas para os eventos. Eu entendo que causou muita agitação política principalmente em Brasília.

Um dos meus momentos favoritos e memoráveis foi quando estava voando sobre o Rio e vi o Pão de Açúcar e o Cristo Redentor com meus próprios olhos pela primeira vez.

Quando pousei em São Paulo vi aqueles milhares de prédios, tinha escutado que era a cidade mais densamente povoada do hemisfério sul. Depois de ver todos esses edifícios, acreditei. Teve uma noite que fomos assistir um tributo de Oasis. Foi legal porque nunca vi Oasis de verdade e ouvir todos cantarem Wonderwall é algo para se lembrar”.

Felipe Huerta – Chile

Felipe

“Morei cinco meses em Brasília e achei o povo alegre, com muito ânimo e amam a vida. Porém, também achei que as pessoas têm bastante rancor com as autoridades, percebi que é pela corrupção. Ademais, é um povo muito pobre e fiquei surpreso de como são fortes.

Sempre vi policiais, mas não sei se é porque aconteciam muitas coisas ruins ou só para ter mais a presença policial. Chamou minha atenção o tamanho de suas armas.

No Chile as pessoas são mais tranquilas e têm a mente mais fechada. No Brasil percebi mais tolerância em certos temas. Os brasileiros gostam mais de sair, se juntar, dançar e beber nos dias de semana. Os chilenos não.

Aprendi que na América do Sul todos os países têm os mesmos problemas. Governos ruins, desigualdade social, custo de vida alto. Mas, no Brasil vi que a pobreza é muito grande, fiquei impressionado. Você pode perceber que o Brasil poderia ser muito melhor se não tivesse tantos problemas políticos.

Apesar de tudo, eu moraria no Brasil, amei as pessoas e as suas paisagens. Além disso, gostaria de ajudar um pouco”.

Andrea Renuncio – Espanha

andrea

“Vivi cinco meses em Brasília e fiz intercâmbio pela Universidade de Brasília (UnB), lá estudava engenharia mecânica. Achei que as pessoas são abertas e gostam de ajudar os outros.  Não tive problemas com segurança, acho que é tranquilo, pelo menos onde vivia. O Brasil tem seus problemas, principalmente na política, mas a Espanha também é muito corrupta. Com certeza moraria no Brasil, sinto muita falta dos meus momentos e amigos que fiz lá”.

Jhon Ander’s Millones – Perú

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“Moro aqui em Brasília há quatro anos. Acho que além da mudança de língua, a grande maioria das pessoas são muito receptivas e te ajudam quando você precisa de orientação. Seja na Universidade ou na vida cotidiana. Também percebi que algumas pessoas não são tão receptivas assim, tentam te zoar quando elas sabem que você não consegue se comunicar em português, não falam bom dia, boa tarde, boa noite, passam do seu lado como se não te conhecessem. Realmente acho triste essa falta de educação.

Nos primeiros anos eu morava na Asa Sul, um lugar muito tranquilo e não tinha nenhum problema com minha segurança pessoal. Depois desses dois anos eu já comecei a perceber a falta de segurança, principalmente nas quadras onde às vezes tinha pessoas querendo te roubar. Acho que toda cidade passa por essa situação de falta de segurança local. Acho que agora Brasília precisa melhorar muito na segurança. Não só das pessoas que vêm de fora, mas também do povo brasileiro.

Precisei de hospitais públicos do Distrito Federal e passei por uma experiência totalmente decepcionante e triste. Realmente estava passando mal, tinha febre, dor de cabeça e não conseguia me recuperar (nesse ano ainda não tinha meu RNG, só andava com passaporte). Quando fui para o hospital de Base, o cara pediu minha identidade e falou: – você é estrangeiro pode ir em uma clínica particular aqui é só atendimento de emergência. Mas, eu realmente precisava de um médico.

Acho que em questão de cultura somos muito diferentes, vocês pensam diferente em questão de política, gênero, Universidade, etc. Para mim foi totalmente diferente chegar aqui e perceber coisas do que eu não estava acostumado. Depois de um tempo eu consegui me adaptar a rotina, não concordo com alguns pensamentos, mas sempre respeito o pensamento da outra pessoa .

Brasília é uma cidade muito cara comparada com meu país, percebi muita desigualdade social, pessoas que ainda não mudam seus preconceitos (questão de gênero, racismo) e também na parte da política percebi muitas injustiças, corrupção na qual eu me reservo o direito a opinião .

Ainda continuo morando aqui em Brasília, além das dificuldades não é fácil morar fora da sua terra, mas meus amigos me fazem sentir como se estivesse no meu país. Sou uma pessoa que está na luta para conseguir seus objetivos. Posso dizer que Brasília é minha segunda casa.

Há um tempo atrás, fiz uma viagem para Salvador onde consegui perceber um pouco da realidade. Por mais que seja uma cidade antiga e não moderna, consigo dizer que é uma cidade onde as pessoas são diferentes no sentido que elas e eles te dão um “bom dia, boa tarde”, aí consegui mudar uns pensamentos.

Nos primeiros meses de boas vindas ao Brasil, meus amigos me convidaram para tomar cachaça e eu fiquei tão bêbado que fui para no hospital hehehehe”.

Stelios Fazakis – Grécia

Stelios

“Moro aqui há mais de quatro anos, acho que o povo brasileiro é acolhedor e divertido. Curioso sobre o estrangeiro e os costumes da minha origem. São pessoas das mais variadas descendências que parcialmente me faz a sentir que a aceitação do diferente é maior. Se encaixar é mais fácil.

A segurança é um problema sério. Passei por situações que criaram medos que não tinha antes. E até levei a desconfiança para Grécia. A falta de segurança vem em primeiro lugar e a desigualdade. Creio que são interligados. E causam outros problemas como o custo de vida que está aumentando para os brasileiros. A situação política achei muito similar. Referente a corrupção e os costumes e situações econômicas, senti que estou vendo os problemas da Europa se repetindo.

Várias vezes visitei serviços públicos. Senti que existe uma tendência de organização. Em modo geral a espera comprida é o pior problema. Hospitais do SUS nem sempre têm um bom atendimento também.

Achei o povo um pouco mais sociável aqui. Porém senti que os brasileiros tendem aceitar as diferenças, mesmo não concordando. Por exemplo, racismo. Uma pessoa é racista mas pessoalmente não demonstra.

Conheci muitas pessoas, mas não posso desconsiderar o mais importante, meu marido! Me ajudou a conhecer o Brasil e os brasileiros como são de verdade. Fui incluso em uma família brasileira do jeito mais simples possível. Nunca vou esquecer a primeira vez que conheci a família dele, como todos me receberam com amor e sorriso e queriam saber tudo sobre mim. Foi bem divertido e barulhento! Tenho planos de um dia voltar ao meu país”.

 

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